quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Somos tão jovens

"Somos tão jovens
deliberadamente jovens
estamos na idade de casar nossos amigos

caminhamos pela vida com a disposição de quem
sempre está pronto para festejar
nosso impulso é esse
nossa força

Pois bem,
mas o que nos diria a morte
na cara viva de nossos corpos,
a contradição de tudo aquilo que somos
e vivemos?

Temos tanta vida pela frente
nossos amigos estão casando...
não é fase de
sepultá-los

Nessa vida onde até os jovens se cansam
e morrem
a morte não tem a última palavra!"

(escrito em setembro de 2013)

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Esta semana fez um ano em que nosso amigo Vitor morreu. Achei por bem trazer uma pequena nota a respeito disto, já que a sua vida, embora abreviada, não tenha deixado de nos legar, além de boas lembranças, um testemunho de vida que transcende a sua morte. Vitor morreu para esta vida, mas o seu exemplo ainda permanece para todos nós que ainda queremos viver e aprender a viver. Sobre isso nosso amigo nos ensinou muito.

São poucas as pessoas das quais podemos dizer que nos causam o tipo de sensação que Vitor causava. Era um menino de 22 anos que depois de alguns minutos de conversa e contato tinha-se a impressão de ser um amigo de longa data. Debochado, brincalhão e sempre disposto a um sorriso, não economizava palavras nem piadinhas para descontrair, nem mesmo a atmosfera mais séria que pudesse haver. Quem o via rindo debaixo daquele boné (que ele não tirava nunca) não poderia imaginar a sua luta contra o maldito câncer. Vitor tinha Linfoma. E desde cedo lutou contra essa doença, que acabou voltando com força nos anos de sua juventude. Ele não fazia questão de esconder o assunto de ninguém, pelo contrário, falava abertamente e orávamos juntos muitas vezes sobre isso. Apesar disso, o seu jeito e a sua alegria de viver parecia dissipar a sombra do câncer. Para muitos que passam por essa mesma luta não é difícil ficar estigmatizado e conhecido como "pobre coitado... ele tem câncer...". Vitor não tinha vocação para isso. Nem mesmo se fizesse muito esforço para ficar quieto (aquele ali não tinha jeito mesmo). Não o víamos se queixando da vida e dos problemas, que acabavam indo muito além do Linfoma. Mesmo hoje, depois de um ano da sua morte, só conseguimos nos lembrar dele sorrindo e brincando. Não há como contestar, era a sua marca. Marca que ficou em nossas vidas, na de todos que tiveram a oportunidade de conhecê-lo.

Vitor é o testemunho vivo de que a alegria expressada aqui, mesmo em meio as dores, é algo que aponta para a eternidade, para Cristo. E desta alegria plena nem câncer nem morte o privou de experimentar.

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Discipulado


Estamos trabalhando e crendo, pela graça de Deus, num constante amadurecimento da missão aqui no Pestano, apesar das inúmeras dificuldades que não poucas vezes nos desestimulam. Agora por último estamos dispondo de um material que desenvolvemos para o trabalho de discipulado na comunidade. Trata-se de um guia prático contendo de forma sintetizada alguns grandes temas da caminhada cristã. Nele existem algumas sugestões práticas para a experiência da fé em Cristo, como também, um anexo sobre a proposta de Pequenos Grupos adotada pela comunidade. Criamos esse livrinho por entender que o Pestano merecia um material mais adequado com as suas reais necessidades e contextualizado com a sua realidade. Isso se mostrou bem diferente das opções que temos no mercado editorial evangélico. Além disso, o objetivo desse projeto é estimular as pessoas para um contato relacional e prático com a fé, ao invés de ser um curso de "doutrinamento", como muitas vezes parece ser as propostas de discipulado dentro da igreja. 

O discipulado no Pestano também procurará fugir de uma estranha lógica que também parece ter ocorrência dentro da igreja: a de enxergar as pessoas estrategicamente como peças num processo de treinamento. Nesse sentido só se investe em pessoas esperando um resultado: sua aptidão correspondente ao treinamento. Ou seja, não se discipula para a vida. Se discipula para uma função específica e se investe nos mais capazes para exercê-la.

Aqui no Pestano buscaremos seguir os passos do mestre, que entre os seus, chamou para a caminhada aqueles que, segundo o olhar discriminatório, aparentemente não valiam um "sabugo". Nossa missão aqui não é investir em pessoas que podem dar "resultado" positivo para o modo como muitos compreendem sucesso na missão de Deus. Este projeto visa dedicação e caminhada no Evangelho com gente que vive sob o rótulo social da desvalorização e marginalidade. A estes o amor de Deus quer se estender como poder transformador e valorizador da vida em sua totalidade.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Programa Vida Plena

O QUE É?

O Programa Vida Plena deverá ser um conjunto de projetos que contempla a possibilidade de atuação nas áreas da Educação, Saúde, Esporte, Capacitação Profissional, Arte e Cultura. Foi pensado para ter um caráter dinâmico, de contínua agregação e renovação de projetos. Seu foco é agir sobre as necessidades do Bairro e da Igreja, e seu objetivo maior é, a partir de ações planejadas, criar relações de complementaridade entre Bairro e Igreja que produzam mútuo crescimento. Essa aproximação entre Bairro e Igreja ajudará ambos a se enxergarem como realidades amadas por Deus e postas a serviço deste mesmo amor através do relacionamento.

A prioridade do Programa é apostar no engajamento de voluntários, investindo princialmente em pessoas da Igreja que se sintam despertadas e relação à vocação e dons. Os projetos serão coordenados por uma equipe gestora, responsável também pela administração geral e utilização dos recursos.

O Vida Plena é uma iniciativa da Comunidade Martim Lutero e conta com a parceria da Missão Zero (MZ) e Sociedade Missionária Norueguesa (SMN).

COMO SE TORNAR UM COLABORADOR?

Você pode colaborar com o Vida Plena se dispondo a ministrar oficinas, cursos ou palestras, tornando-se um voluntário de acordo com as suas capacidades e interesses de atuação, ou, auxiliando no desenvolvimento e execução dos projetos.

Queremos compartilhar com você este grande aprendizado: Somos, a um só tempo, agentes e alvos da missão de Deus.

CONTATOS

Quer conhecer mais sobre o Programa Vida Plena e tornar-se um voluntário?
Visite-nos ou entre em contato:
Endereço: Av Zeferino Costa, 4240 – Pestano, Pelotas/RS
Telefone: (53) 3227 1645
Email: vidaplenapestano@gmail.com
Facebook: https://www.facebook.com/vidaplenaprograma

Vida Plena



- ...eu vim para que tenham vida, e a tenham plenamente - 
João 10.10


O Vida Plena vem surgindo ao longo do tempo, desde 2012, como um projeto envolvido num grande desejo de fazer algo pelo bairro Pestano em Pelotas/RS. Esse algo tem crescido no nosso entendimento como forma responsável de atuação da Igreja no seu compromisso de levar o amor de Deus (na prática) ao próximo. Durante esse período a proposta do Vida Plena tem se transformado de acordo com as inúmeras experiências já vivenciadas no contexto do bairro.

A realidade do Pestano não difere muito daquelas características muito comuns em contextos de marginalização social e econômica no Brasil (pobreza, criminalidade, injustiças, drogadição, etc). No contato com as necessidades da comunidade, no envolvimento com vidas e realidades específicas surge então uma questão fundamental para aquilo que hoje direciona a visão do Vida Plena: Na medida em que nos aproximamos da carência do outro, encontramos também a nossa própria carência e, no entanto, nesse movimento de aproximação reside o crescimento de ambos. Ou seja, quando chegamos perto das necessidades de nosso próximo para amá-lo de maneira concreta, nos damos conta de que aí, justamente nesse tipo de relação de amor e doação, é que é suprida também uma necessidade em nós mesmos - a necessidade de sermos plenamente humanos, como Jesus cristo, e estender essa possibilidade de humanidade também a outros. Esse é o compromisso derradeiro da Igreja que tem no exemplo de seu Cristo (aquele que viveu substancialmente em função dos outros, para a salvação dos outros), a sua autoridade ética maior (única).

Hoje o sonho assume uma forma mais clara e vem sendo estruturado em vistas de adquirir a qualidade de verdadeiro veículo e promotor dos valores do Evangelho na Igreja e no Bairro. Eis que surge o PROGRAMA Vida Plena, que tem por objetivo construir um conjunto de projetos sócio-educativos para o desenvolvimento integral das pessoas, estimulando processos de conscientização e transformação do ser humano e sua realidade.


sexta-feira, 11 de julho de 2014

A rua dos buracos (poema quatro)

IV

Há jovens nas esquinas
acendendo a ponta da vida
com fogo perigoso
embriagando tantos passos
tantos começos
num devir incauto e duvidoso.

Há jovens nas esquinas
jogando na cara da vida
o seu desejo ainda maior de viver
Grito solto! Exposto!
Jogado ao vento, gemidos...
em gestos loucos de dizer.

Há jovens nas esquinas
tragando o ar rarefeito
enchendo o peito de vida loka
viciando cada medida e fragmento
de uma história clichê...
muleque revés porra loca.

Mas haverá tanta vida assim
dando-se à imagem de juventude
por essas esquinas esquecidas?
Vai ver se está lá na esquina
talvez algumas respostas
Talvez mais perguntas perdidas


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Poesia: Thiago de Mattos

O lugar da fé

"Jesus admirou-se e disse aos que o seguiam: 
'Digo-lhes a verdade: Não encontrei em Israel 
ninguém com tamanha fé."  (Mateus 8. 10)


Jesus era sujeito caminhante, sempre a rumo, encontrando gente de tudo que era tipo. Com uma disposição de vida totalmente aberta para os outros, abria-se também para o surpreendente na vida das pessoas. Permitia que as pessoas o atingissem, seja como for, para o mal e para o bem. Não se eximiu de absorver toda a realidade humana naquilo em que ela se mostra, ou aberta, ou fechada para a fé. Algumas vezes ele se espantou com a fé das pessoas como no caso do centurião romano. Outras ele questiona, até em tom de indignação, sobre a falta de fé de seus irmãos israelitas: 'ó geração incrédula'; 'homens de pequena fé!'; onde está a fé de vocês?'. 

'Onde está a fé de vocês?'

Será essa também uma pergunta oportuna para nós, evangélicos protestantes, tão identificados com o primado da fé sobre todas as coisas?
Ou será que nos importuna muito sermos questionados a esse respeito, mesmo que quem o diga seja o próprio Senhor da fé?
Ora! Diremos então em tom uníssono e voz indivisa: Aqui está Senhor! Não vês os nossos credos e confissões? Aqui está a nossa fé irretocavelmente preservada como artigo, como tradição.

Quando Jesus remete essa sua pergunta aos homens, nunca deixa de fazê-lo na perspectiva da realização concreta da fé. É a respeito da fé que põe um pai em movimento, que faz uma mulher tocar nas suas vestes, que cura um cego, que expulsa um demônio, que faz andar sobre as águas, que faz doar-se para o outro... Desta fé ele está falando. Aquela que se concretiza. A isso também se assemelha o modo como Lutero encarou a fé. Como algo que, através de, se vive concretamente nas boas obras (obras da fé). A fé implica inevitavelmente num viver concreto.

Vejamos a respeito da fé então, e do lugar existencial que ela ocupa. 
Como pessoas sedentas por domínio e poder (eis o nosso pecado) costumamos nos referir a todas as coisas como se fossem bens utilitários de nossa vontade. Isso acontece inclusive em relação a Cristo. Deus não é uno nem trino na compreensão humana se formos analisar a realidade psicológica daqueles (pessoas ou grupos) que se dizem confessar o seu nome. Ele é multi, pois para cada um (pessoa ou grupo) há um personal jesus correspondente do qual se toma posse, muitas vezes através da apropriação intelectual (quando a expressão de fé é mais racional). Outras vezes pela apropriação afetiva, mística, etc. dependendo do contexto cultural específico. Mas independente das relatividades culturais, a questão é que na nossa mão (ou aquilo que pensamos estar ali para possuirmos), tudo se torna um objeto. Nessa dinâmica acabamos desnaturalizando muitas 'coisas' que, na realidade, são sujeitos e não objetos. Exemplos: Fazemos isso com as pessoas, conosco mesmo, com Deus e, permitam-me dizer aqui, também com a fé e a verdade que admitimos vir de Deus. Digo isto porque não entendo a fé ou a verdade cristã como uma entidade abstrata e impessoal como nas filosofias, mas como algo(guém) pessoal. Cristo é o conteúdo da fé e a verdade divina. Ele é a verdade encarnada, pessoalizada. 

Precisamos parar de tratar a fé ou a verdade como 'coisas', ou objetos de nossos esforços enquanto 'conquistadores' (da verdade) e 'defensores' (da fé). Precisamos, isto sim, nos enxergarmos como possuídos por esta fé e por essa verdade. São elas que conquistam e defendem as nossas vidas. Isso nada mais é do que estar nas mãos de Cristo. De acordo com Lutero, é a boa obra de Deus em nossas vidas (a obra da fé). 

Portanto, quando Jesus pergunta: onde está a fé de vocês? Acredito muito pouco que ele esteja se referindo a um objeto que podemos transportá-lo de um lugar para outro, de acordo com os níveis de nossa capacidade, nos ambientes abstratos de nossa mente. Ele não está falando de um pacote mental, verbalizado, organizado em artigos e parágrafos que encontra sua realização funcional na boca de quem o confessa. Quando ele faz essa pergunta - 'onde está a fé de vocês?', penso eu, ele está querendo dizer o seguinte: Onde está, na vida de vocês, a manifestação existencial concreta daquilo que eu sou, o poder para viver segundo eu vivi, o amor encarnado revelado em mim? 

A fé como representação escrita plena, penso ser somente aquela da qual o apóstolo Paulo fala como sendo escrita em tábuas de carne do coração - o conteúdo da fé como carta humana.
Carne, eis aí o lugar da fé. 


(continua...)

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Texto: Thiago de Mattos

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Crer é (também) agir

"Nem todo aquele que me diz 'Senhor, Senhor', 
entrará no Reino dos céus, mas apenas aquele 
que faz a vontade de meu Pai que está nos céus" Mt 7. 21


Talvez ainda seja necessário discorrer um pouco mais sobre aquilo que chamamos anteriormente de "confessionalidade verbal da fé" e das hipóteses até aqui mencionadas acerca das ênfases dadas a este tipo de expressão da fé. A tradição cristã é profundamente reflexiva e discursiva. A fé regularmente foi experimentada (exaustivamente) como objeto da reflexão e do discurso. O habitus cristão foi sendo construído nesse movimento em torno das ideias a respeito do conteúdo da fé (Teologia). E esse movimento se refere, ao que me parece muitas vezes, se tratar apenas da articulação verbal para a apreensão pessoal ou comunitária dos conteúdos da fé (confissão) e para o discurso em relação a eles (pregação). Nesse sentido se torna um movimento cíclico retroalimentativo que parece satisfazer a fundamentalidade da fé aí pretendida, ou seja, como objeto articulado em relação à fala (apreendido e comunicado). Tanto que ainda hoje medimos a qualidade de vida de nossas igrejas locais pelo número de pessoas que frequentam nossos cultos (ambiente da fé verbalizada) e não pelo número de cristãos envolvidos na sociedade em práticas de serviço e amor ao próximo - mesmo que a pregação cristã tenha um caráter significativamente prático.

A teologia reformada gosta muito de dizer que crer é também pensar, talvez em resposta a um mundo que mede as coisas pela razão (embora também se enxergue os sinais de que este mundo esteja passando). Mas o que pelo menos fica evidente em Cristo é que importa muito menos falar, pensar ou mesmo confessar a fé verbalmente do que vivê-la na prática. Jesus não fez teologia. Nós fizemos. Em categorias de fundamentalidade nada está para Cristo que não parta dele mesmo, ou seja, teologia não é fundamental - pode ser importante de várias maneiras, mas não fundamental!. Daí creio que a fundamentalidade da fé está mais para a sua ação prática-encarnada do que sua confessionalidade verbal. Para exemplificar tem-se inclusive palavras do próprio Mestre (Mt 7. 21).

Teologia é produção humana em relação ao conteúdo da revelação divina, e como tal pode pender seus resultados de ação no mundo para um lado que não seja necessariamente da vontade de Deus. Nesse sentido ela pode inclusive assumir categorias ideológicas semelhantes às vinculadas às filosofias deste mundo, que assumem internamente um caráter de dominação em relação a verdade e arrogam para si a cosmovisão mais coerente da realidade. As teologias podem sucumbir ao mesmo tipo de pretensão ao buscar uma verdade objetiva, abstraída e sistematizada, e, com mais gravidade do que em qualquer outro conjunto de ideias que visa construir-formar (ou re-formar) uma visão de mundo, pois o faz em nome de Deus. Aqui temos o terreno preparado para os sectarismos e os proselitismos cristãos - e porque não também a origem de todos os denominacionalismos?. Temos a fé instrumentalizada enquanto lente de interpretação-julgamento-sistematização da realidade. E o perigo de toda sistematização é se fechar e pecar contra a pluralidade e diversidade da vida, que nunca se enquadrará no domínio limitado da articulação verbal. A teologia, portanto, pode ser tão pretensiosa quanto a filosofia (e igualmente limitada).

O problema todo, ao que parece, está na maneira como nos relacionamos com a verdade. Diferentemente das filosofias, o cristão crê numa verdade-pessoa (Cristo) que pode ser conhecida de maneira experiencial (e não verbalmente abstrata - como se fosse de ouvir falar apenas), e a experiência com Cristo se dá na vida dos outros (Mt 18. 5; 25. 40). 

De forma bastante simples basta pensar que o evangelho não veio para ser instrumentalizado para a visão, e sim, enquanto veículo de comunicação e interação humana. É uma mensagem na qual está, de acordo com a multiforme graça de Deus, a potência para a instrumentalização da fala-ação (ou seja, não somente verbal) e não da visão. A mensagem é simples, não precisa de muita articulação codificada. Cristo é o Evangelho diz a boa teologia, e Cristo veio não para compartimentar a realidade em estruturas teóricas para a satisfação da mente, mas para amar e se envolver com ela na prática até as últimas consequências, "não para julgar o mundo, mas para salvá-lo" Jo 12. 47. 

(continua...)


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Texto: Thiago de Mattos

quinta-feira, 29 de maio de 2014

A confessionalidade verbal da fé

Nós evangélicos protestantes tratamos com muita seriedade o valor da confissão de fé. Isso faz bastante sentido já que nossa igreja nasceu sobre um chão marcado pelos debates teológicos, concílios e formulações de confissões de fé. Olhando para mais longe, para a igreja antiga (os pais da igreja), vemos que essa preocupação com a articulação correta da fé não foi apenas privilégio dos reformadores. E olhando para mais longe ainda, podemos ver também este tipo de atitude até nos escritos dos apóstolos. Tudo isso reforça a nossa identidade construída historicamente como um povo que confessa o conteúdo de sua fé sistematicamente. A isso demos o nome de ortodoxia. 

Agora vem a pergunta: Nós como protestantes não temos reproduzido este movimento todo em torno de nossa confissão de tal forma a negligenciarmos, em certa medida, o último ato deste mesmo movimento? De tal maneira que ele nunca chegue livremente ao seu objetivo, digo, às obras? Por que afinal de contas a fé sem obras é morta, diz a Bíblia, a despeito do nariz torto de Lutero para a carta de Tiago do Novo Testamento. Será que toda essa nossa articulação confessada não se tornou, historicamente, um movimento circular fechado em torno da fala, ao invés de ser um movimento espiralar que se expande, e na medida que cresce se transmuta da fala para ações práticas (da palavra para a carne)?

Essa ênfase na confissão verbalizada, articulada em artigos, pronunciada nos credos, não seria por assim dizer, um provocar-fazer reducionista da experiência da fé, e, por implicação, uma atitude de não integralidade em relação ao evangelho que ela proclama? Pois é verdade também que as boas obras da igreja (instituição) ao longo dos séculos talvez não fazem frente a todas as suas barbaridades. Somam-se, por exemplo, ao conteúdo herdado de nossa historicidade, inúmeras disputas ideológicas e políticas que, levadas a cabo, não tinham nada a ver com o objetivo final da fé, que são as boas obras. Pela dita confissão de fé vigente (seja apostólica romana ou reformada) praticou-se, como missão cristã, assassinatos, perseguições e violações de todas as leis que hoje nomeamos de humanitárias.

É claro que hoje não matamos mais ninguém em função da nossa fé-artigo (pelo menos não fisicamente). Mas continuamos enfatizando aquilo que os apóstolos, pais da igreja e reformadores fizeram questão de relacionar a fé: sua representação enquanto artigo teológico. E fazemos isso sem talvez irmos para um ponto mais originário ainda - a propósito o ponto primeiro... aliás, primeiro e último: Jesus Cristo. Porque se ater demasiadamente ao que se ramificou dele, sem se perguntar que o que mais interessava a ele era simplesmente amar concretamente as pessoas e salvá-las através deste amor? Para Jesus o importante era a articulação da práxis. Ele não perdeu tempo articulando o evangelho com outra coisa senão com a sua representatividade concreta e real na vida das pessoas. 

Não estamos questionando aqui o valor histórico das confissões e credos, muito embora se pense que a tradição possa (e deva) nesse sentido, ser questionada, ainda mais se estiver em jogo a vivência da fé com mais sentido histórico para o hoje.

Entrementes, continua sendo mais importante para o protestante a ortodoxia do que a ortopraxia - pois a verdade do cristão repousa ortodoxamente e não ortopraxiamente - e, ao meu ver, aí reside um tema central da dificuldade de compreender e expandir o horizonte da reflexão e da prática acerca de missão integral.

(continua na próxima postagem sob novo título)

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Texto: Thiago de Mattos

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Missão Integral

- E disse-lhes: Ide por todo o mundo, 
e pregai o evangelho a toda criatura -
Marcos 16. 15


Ao longo dos tempos os cristãos têm enxergado aquela famosa frase dos evangelhos sob lentes diversas. O “Ide” desde o dia em que foi pronunciado por Jesus não é um comissionamento estático na sua maneira de ser interpretado e praticado. Por todos esses anos de expansão do Cristianismo a tarefa dada por Jesus tem sofrido muitas transformações. Quem dá um excelente panorama dessas mudanças de paradigma ao longo da história é David Bosch em seu livro “Missão Transformadora”. Ali podemos notar o quanto a ideia de Missão e a prática da mesma é algo condicionado pela consciência de mundo da época.

Nesse sentido a Missão já foi um movimento marginalizado e contracultural (pré Constantino;) já foi um movimento automatizado pelas vias políticas (pós Constantino); já foi missão coercitiva segundo o modus operandi imperialista e colonialista (Religião Oficial); também já foi vista como um esforço conjunto com o desenvolvimento da educação e da legislação política; já teve suas nuanças moralizantes, racionalizantes e proféticas, inclusive. A tudo isso se agrega ainda (e fundamentalmente) a visão do Cristo que profere o “Ide”, que também não é uma figura estática e sofre transformações no decorrer da história. Pois, ora é o Cristo perseguido e marginalizado, ora é o Cristo imperador e conquistador (exemplos de polarizações, para dar uma ideia do nível de dilatação a que se chega nossas compreensões acerca de Cristo e seu Evangelho).

A Missão de Deus tem uma história e nos enganamos se pensarmos que não somos herdeiros dela, e, mais ainda, assumimos uma postura alienada quando não considerarmos também os efeitos desta época em que vivemos na nossa compreensão e prática dela. Nós, evangélicos protestantes da América Latina, inseridos num determinado contexto sócio-econômico, temos chegado ao termo: “Missão Integral”. E, ao que parece, até agora, como articulação missiológica faz bastante sentido para a nossa realidade.

Mas o que nos importa afinal chegar até o "termo" e não ultrapassá-lo? Estruturar nosso pensamento e não pô-lo à prova? 

O principal objetivo de nossa Missão, antes de enquadrá-la em categorias mentais acessíveis, é vivenciá-la na prática, de maneira simples como Jesus nos ensinou (e cuja força de ação é o seu amor).
Conceituar Missão ou mesmo torná-la um artigo confessional verbalizado ainda não é experimentá-la integralmente como Missão, se não houver a sua experiência prática. Por isso nossa reflexão aqui não tem a ver apenas com a compreensão das coisas, mas também como agimos em relação a elas. Nosso esforço deverá ser antes de tudo tornar este termo carne, que é o solo da experiência concreta e real com Deus. 
Humanizar o termo! Eis aí nossa tarefa!


Continua...

(A relexão vale à pena, vamos tratá-la com doses homeopáticas)


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Texto: Thiago de Mattos

sábado, 5 de abril de 2014

A rua dos buracos (poema 3)

III

Se essa rua fosse minha
eu mandava nivelar
não por baixo, mas por cima
para o meu sonho passar



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poesia: Thiago de Mattos

quinta-feira, 27 de março de 2014

O jovem pobre

- Bem aventurados os pobres de espírito 
porque deles é o Reino dos céus- 
Mateus 5. 3



Seus dois olhos brilharam com um brilho ainda incerto para mim, porém, com suspeitas de haver ali certa ingenuidade, me permiti estar à mercê de qualquer coisa que poderia vir, talvez uma “oração forte” pensei (algo muito corriqueiro), mas não... Aquilo lhe saiu dos lábios com uma espontaneidade quase invasiva, indiscreta.  Olhos pequenos numa face miúda me fitavam com segurança, assim como toda a sua expressão corporal que dizia a mesma coisa. Cada gesto autenticava aquele vigor pronunciado, por irônico que pareça ser, de pulmões frágeis sob um teto de telhas remendadas. As palavras saíram como se lhe fosse um credo, sistematicamente elaborado e professado em tom apostólico. Era possível, para alguém com boa imaginação, até ouvir os sons característicos de uma teofania, relâmpagos e anjos dizendo amém. Aquele momento reservou-me a participação numa cena extraordinária, cujo protagonista brilhou tanto, que eu, por fim, nem fiz muito caso do papel figurante que desempenhei.
Suas palavras relampejaram com prerrogativas divinas. Foram construindo ao poder de uma só voz, um universo muito bem organizado. Tudo estava ali no lugar onde devia estar e com a riqueza de detalhes que só uma mente muito determinada poderia prever. Uma BMW de repente surgiu no pipocar de uma frase, com um adesivinho “Foi Deus que me deu” ao lado do peixinho cristão (é claro!). Depois veio a casa de três pisos (com piscina, área de lazer, churrasqueira, quadra de futebol, suítes, garagem pra três carros, etc)... e assim por diante foram saltando para a existência uma série de coisas. O intrigante é que este mundo presente na estrutura do seu discurso não estava ali para ser experimentado realmente pelos sentidos, ou melhor dizendo, o que o cercava por todos os lados era justamente um mundo totalmente antagônico. A exemplo disso poderia se falar do casebre de madeira desconjuntado pendendo para um lado sob nossas cabeças, no qual havia, sem surpresa nenhuma, no pátio um fusca sendo montado com a lataria em cacos e precisando refazer o motor. Mas isso não lhe tirava o brilho do rosto nem o seu ânimo oscilava. No final só faltou dizer que tudo o quanto criou havia ficado muito bom e regozijar-se consigo mesmo, a despeito do mundo real que não criara.
Com uma sensação de impotência senti calar dentro de mim, talvez o meu impulso mais primitivo para aquela hora. Contive o desejo demasiado humano de sair a passo e conformei-me: “Ora... afinal, nas conversações os ouvidos não são mesmo órgãos seletivos como a boca que pode escolher o que dizer!” Sem voz e sem ação segui ouvindo o que não queria. Minha capacidade de armazenamento de dados (insolúveis) aos poucos foi se comprometendo, chegando ao ponto em que não conseguia mais fazer a leitura de suas palavras, apenas de seus gestos, que, até ali, continuavam a exprimir uma estranha e contraditória empolgação. Apesar de tudo, eu estava ali, emocionalmente envolvido com cada vibração do meu interlocutor. Sentia em mim a força e o atrito de suas palavras.
Naturalmente percebi que aquele jovem não se sentia perdido, com dúvidas ou perguntas (acerca da vida eterna?). Como poderia? Não havia hesitação em sua fala. Nem sequer um pedido de oração lhe cabia fazer. Sua oratória era evangelística, profética. Poderia fazer sentir-me um pagão da cabeça aos pés. - “Mas que ingenuidade a sua!” - afinal de contas, ele bem poderia interpelar-me, por pensar este absurdo. E se assim ele o fizesse, o que poderia dizer eu? A não ser reconhecer, ao menos pelo juízo estético da cena, que eu estava mesmo diante de uma figura mais parecida com um mestre (no conceito popular e cultural-religiosamente apreendido: um profeta pentecostal)? Pronto! Estava resolutamente reconhecido, e por isso mesmo, não menos que uma boa lição tirei de sua aula (é verdade!).
Todas aquelas proposições do seu credo ele demonstrava cumprir muito bem, com ar de superioridade até, o que na verdade era também uma mensagem implícita para mim, para que eu fosse como ele. E assim ia dizendo sem rodeios após citar o exemplo de um fulano de tal que era pastor e andava de carro importado na vila, o qual também deixou claro, ser um homem que acreditava no Deus em que pregava:
- Deus é dono de todo ouro e toda prata. É só fazer um propósito com ele e tu vai prosperar! Ele vai te honrar!
        Síntese magnífica! Menos não poderia se esperar de um coração tão sedento. Digna de um silogismo aristotélico - agrada o raciocínio lógico - e o melhor de tudo, biblicamente fundamentada - agrada também a piedade cristã!
Ainda absorto na megalomania daquele universo construído, tentei ensaiar uma reação verbal e fugir para um terreno mental menos perigoso para o bom senso. Sugeri um escape tentando tornar mais leve o nosso diálogo (que mais parecia um monólogo). Coisa simples tentei, como perguntar: “e a família como vai?” Porém, isso não lhe distraiu a mente nem conteve aquela vazão que insistia e que qualquer hora iria transbordar-me a paciência. Trocou duas palavras sobre o assunto e logo retomou o mesmo ímpeto. Por mais alguns minutos continuou falando. Depois de ter tomado posse de muitos tesouros com o aval de Deus, disse a ele que precisava ir andando, já estava tarde e tinha outro compromisso dali a pouco. Ele lamentou termos que acabar a conversa, pois pelo jeito, tinha outros “testemunhos” para dar (com certeza).

Antes de ir embora, disse-lhe que ainda faltava uma coisa para ele: Renunciar toda a riqueza que o seu desejo cobiçoso havia ajuntado no coração e assim ele teria um tesouro incorruptível nos céus. Ele olhou para mim e não arredou o pé, não ficou triste, não baixou a vista nem perdeu o brilho do olhar - a partir daí, reações que não me surpreendiam mais. Notei apenas uma leve alteração na sua expressão. No canto da boca, crescendo deliberadamente sem timidez, um risinho debochado com ar depreciativo. Não disse mais nada. Saí de sua casa cabisbaixo, misturando dentro de mim os dois ingredientes (indigestos) daquela tarde: tristeza e indignação.  Ele ficou lá com dois olhos luminosos sob um teto de sonhos, enquanto eu, à medida em que me distanciava percorrendo o chão esburacado de sua rua, tinha o olhar depressivo sentindo cair sobre mim uma terrível realidade. No caminho de volta para casa me peguei pensando: “Que mundo louco é esse! Não é nem mais ‘privilégio’ somente dos ricos ter que passar um camelo pelo buraco de uma agulha!”





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Texto: Thiago de Mattos

terça-feira, 18 de março de 2014

A rua dos buracos (poema 2)

II

Às margens da rua os esgotos nos reservam
de vez em quando certas surpresas
à céu aberto o que tem lá nem se esconde
tanto assim da nossa vista
tênis, cd, calota de carro, garrafa pet e celular
tudo muito misturado à rigor
para compor o cenário.

Mas pra surpresa de alguém...
parece que isto aqui ninguém pôs:
na beirada da valeta emergindo
timidamente um raminho de hortelã
a destoar da paisagem e do odor
Cresceu ali contrastado do meio
com fragrância e propriedades diferentes.

Lá pelas tantas depois de muito alarde
(afinal, convenhamos, foi um achado inusitado)
nem sabíamos mais se era mesmo hortelã
aquele raminho esperançoso
De qualquer forma bastou-nos
naquele momento estranho
nascer algo bonito dentro de nós mesmos.


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Poesia: Thiago de Mattos

quarta-feira, 12 de março de 2014

A rua dos buracos

I

Caminho pelas irregularidades e desníveis
do teu chão
contando os passos e os buracos pela rua
caminho perdendo as contas
e o pudor de te ver assim: tão nua,
dura realidade de solo batido!

Depois de algum tempo o olhar até se
                                     acostuma
e os pés no mesmo embalo despudorados
tocam e desviam tuas lacunas
Que fenômeno é esse que causas nos sentidos,
ó ruazinha de chão sofrido?

Abre olhos fecha olhos
passo a passo continua...



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poesia: Thiago de Mattos

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Boletim Informativo - Fev / 2014

Esse ano de 2014 iniciou com grande expectativa para nós aqui no Pestano. Talvez porque a partir de agora o trabalho já tenha assumido um certo grau de amadurecimento, a despeito dos dois anos iniciais em que a experiência foi muito mais laboratorial, de coleta e análise de dados. Hoje (pelo menos é o que nos parece) estamos mais seguros e fundamentados para o serviço que nos é proposto, e a perspectiva é de que, justamente por isso, possamos ser mais efetivos daqui para frente. 
"Até aqui nos abençoou o Senhor", bem falamos a exemplo do autor da frase, que também a pronunciou em contexto de vitória e com sentido de reconhecimento e gratidão. Até aqui, pequenos marcos muito significativos têm sido deixados ao longo do caminho que temos trilhado. E eles apontam unicamente para a providência e o cuidado gracioso de Deus. São para nós vitória no Senhor!
A seguir, compartilhamos um pouco a respeito do que seja para nós, esses momentos de vitória na caminhada aqui no Pestano.

No mês de janeiro nos reunimos para planejarmos o ano. Foi a primeira reunião de planejamento estratégico com a participação dos membros da comunidade. Nela avaliamos o ano de 2013, destacando os pontos positivos e negativos, e traçamos os objetivos e metas para 2014. Entre outras coisas, nos comprometemos em alcançar os seguintes resultados: Ser uma comunidade mais missionária (apontamos estratégias para isso); Ter um envolvimento maior dos membros na vida ativa da comunidade (realização de tarefas e participação em ministérios); Multiplicar o Pequeno Grupo; Começar o projeto de discipulado individual. 

O ministério de Culto infantil assume, a partir de agora, uma característica de atuação essencialmente local, com participação dos membros da comunidade. Formamos uma pequena equipe com pessoas do bairro para desenvolver esse trabalho, sem participação direta de outras pessoas, que até então vinham de outras comunidades para nos ajudar nesse ministério.

Os Pequenos Grupos continuam sendo uma ferramenta de comunhão e edificação dos membros. Cresce, aos poucos, o sentido de unidade na comunhão com Cristo, bem como o objetivo missionário do grupo (multiplicar o PG). Em consonância com este trabalho, estamos prestes a começar um projeto de discipulado individual, que também fará parte do processo de treinamento dos novos líderes de Pequeno Grupo. Para isso foi desenvolvido um material contextualizado e de acessibilidade facilitada (um guia de discipulado prático) que está em fase de revisão e aprovação.

Fizemos algumas experiências realizando alguns cultos de manhã, alternando com cultos à noite no mês de fevereiro.
As atividades da comunidade aconteciam somente à noite (cultos e PGs). Ultimamente tivemos pensando em mudar um pouco. Essa foi uma das sugestões dos membros da comunidade no dia do planejamento estratégico. Um dos motivos para isso é a queixa da falta de segurança no bairro à noite. Ainda mais nesses últimos dias em que parece existir um “onda de violência” pelo bairro. A violência parece adquirir certa característica sazonal às vezes, ao sabor da destemperança de bandidos e traficantes em seus “acertos de conta”.

No dia 15 de fevereiro a Comunidade Nova Estrada fez aniversário de dois anos. Comemoramos com um culto festivo no domingo (16/02) e após realizamos um almoço. A comunidade também decidiu esse ano realizar alguns eventos, que inclusive tivessem fins lucrativos para obter dinheiro para investir na Comunidade. O primeiro destes eventos foi o almoço de aniversário que nos rendeu R$ 446,95. A experiência deste primeiro almoço fez-nos refletir, em conversas do Pequeno Grupo, de que nosso objetivo maior em qualquer manifestação comunitária da igreja deve ser o bom testemunho, a comunhão e o evangelismo.

A respeito do Programa Vida Plena (programa de desenvolvimento comunitário que estamos elaborando com parceria financeira da Sociedade Missionária Norueguesa) estamos planejando dar início à pelo menos dois projetos nesse primeiro semestre. Além disso estamos trabalhando na construção da identidade visual e divulgação do Programa dentro da Igreja, buscando parceiros voluntários para trabalharem conosco. Temos em vista no nosso horizonte mais imediato projetos na área da música, esporte (escolinha de futebol), saúde (grupo de apoio a dependentes químicos e familiares) e artesanato.


Aline e Thiago